sábado, 22 de junho de 2013

Introdução do livro Utopias esquecidas. Origens da teologia da libertação.


O termo teologia da libertação indica tanto uma doutrina católica quanto um movimento político, social e religioso[1]. A fundamentação da doutrina foi publicada em 1971 por meio dos livros de Gustavo Gutiérrez[2] e Leonardo Boff[3] – e foi o próprio título do livro de Gutiérrez que cunhou o nome teologia da libertação, que também passou a designar eventualmente movimentos ocorridos anteriormente, na década de 1960. Portanto, os livros de Boff (Jesus Cristo libertador) e de Gutiérrez legitimavam estes movimentos e inspiravam-se nestes movimentos. No entanto, neste livro, aborda-se principalmente a fundamentação da doutrina. O problema que se coloca é: como os teólogos católicos Gutiérrez e Boff apropriaram-se de elementos do marxismo e construíram uma nova doutrina católica em 1971?

Diversos autores citados no livro Teologia da libertação apontam para o processo de apropriação de elementos do marxismo feito por Gutiérrez. Estes autores citados são: os teóricos marxistas Ernst Bloch e Mariátegui; os militantes marxistas Che Guevara e Fidel Castro; os teólogos Jürgen Moltmann, Wolfhart Pannenberg e Johann Baptist Metz; e o educador Paulo Freire.

  A partir de Bloch, Moltmann, Pannenberg e Metz, Gutiérrez defendeu a esperança ativa com vistas ao reino terreno da liberdade e o avanço da religiosidade para além da vida privada. A partir de Mariátegui, Guevara, Castro e Freire, Gutiérrez defendeu um pensamento e uma revolução comunista não ortodoxas, condizentes à história latino-americana. No primeiro grupo de autores – de Bloch a Metz – há as reflexões sobre marxismo, religião, história e política. No segundo grupo, há o apontamento de uma teoria da revolução latino-americana.

Boff também cita Moltmann e Metz com vistas à desprivatização da crença dos fiéis. No texto original do Jesus Cristo libertador, o teólogo brasileiro cita Ernst Bloch nas linhas finais do livro. Além disso, encontra-se nos textos de Boff – e também de Gutiérrez – trechos cuja natureza podemos classificar de blochianas.

Aqui vamos nos ater ao primeiro grupo de pensadores – de Bloch a Metz –, pois acreditamos que as chaves para a conjugação entre elementos do marxismo e do cristianismo desenvolvida por Boff e Gutiérrez estão nas reflexões sobre estes autores.

Nosso objetivo é aprofundar a compreensão e a discussão sobre a força social da utopia cristã popular na América Latina, que estava à vista e efetivada nas décadas de 1970 e 1980 e que atualmente está submersa e latente. Conforme indicação do filósofo Enrique Dussel, a força social da esperança católica popular latino-americana pode ser remontada desde frei Bartolomeu de las Casas, portanto, desde o século XVI[4]. Gutiérrez e Boff abriram um novo capítulo na história deste movimento social e a partir do seguinte desafio: como teorizar a construção de um mundo mais justo na segunda metade do século XX?

Ao buscarmos a resposta do problema aqui abordado também resgataremos algumas das utopias que – semelhante a outras – foram e ainda estão sufocadas pela hegemonia neoliberal. Resgataremos algumas utopias não para segui-las acriticamente, mas para propor uma discussão mais rica frente ao monólogo da desesperança, do capitalismo e do individualismo.



[1] LÖWY, Michael. Marxismo e teologia da libertação. São Paulo: Cortez, 1991.
[2] GUTIÉRREZ, Gustavo. Teologia da libertação. Petrópolis: Vozes, 1986.
[3] BOFF, Leonardo. Jesus Cristo libertador. Petrópolis: Vozes, 2008.
[4] DUSSEL, Enrique. Teologia da libertação. Um panorama de seu desenvolvimento. Petrópolis: Vozes, 1997.

sábado, 1 de junho de 2013

Utopias esquecidas, origens da teologia da libertação... disponível na livraria Livros & Cia., no Esplanada Shopping, Sorocaba, SP

O livro Utopias esquecidas. Origens da teologia da libertação, publicado pela Fonte Editorial e de minha autoria, já está disponível para venda na livraria Livros & Cia., no Esplanada Shopping, Sorocaba, SP. Dúvidas: 15) 8145-3720.